sábado, 5 de março de 2016

A Missão




Direção: Roland Josfé

Atores: Robert De Niro, Jeremy Irons, Liam Neeson, Ryan McAnally, Aidan Quinn, Cherie Lunghi, Ronald Pichup, Chuck Low
Gênero: Drama
Duração: 125 minutos



Ano: 1986


Sinopse: no final do século XVIII, Rodrigo Mendonça (De Niro), é um mercador de escravos espanhol, que faz da violência seu modo de vida. Acaba tendo um conflito com seu irmão Felipe (Quinn), devido a disputa da mulher que ama Carlota (Cherie Lunghi). Como forma de redenção, acaba se juntando aos padres jesuítas, tendo seu grande representante o padre Miguel (Irons), nas florestas brasileiras, para defender os índios, que antes escravizava, dos interesses das grandes nações da época.


É um filme britânico, com um elenco de estrelas e com música marcante e poderosa de Ennio Morricone, demais!!! O conteúdo histórico do filme tem muito a ver com a nossa história e foi baseado em fatos reais: a expulsão dos padres jesuítas espanhóis, do reino português, devido à crise nas relações políticas entre a coroas Portuguesa e Espanhola (Companhia de Jesus), apoiada pela Igreja Católica da época. Ou seja, conflitos acontecendo por mero interesse político e financeiro e não com a preocupação com o lado humano propriamente dito. Estamos falando do passado ou do presente?! Parece que nada mudou desde então, só os personagens!!! O contexto é do da Guerra Guaranítica, que ocorreu por volta de 1750 a 1757, entre os índios guaranis e as tropas espanholas e portuguesas no sul do Brasil, após a assinatura do Tratado de Madrid, no dia 13 de janeiro de 1750. Onde os índios Guaranis da Região dos Sete Povos das Missões (nome que se deu ao conjunto de 7 aldeias indígenas fundadas pelos padres jesuítas no Continente do Rio Grande de São Pedro, atualmente Rio Grande do Sul, composto pelas reduções de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio), recusam-se a deixar suas terras no território do Rio Grande do Sul e a se transferir para o outro lado do Rio Uruguai, conforme acertado no acordo entre Portugal e Espanha. Encontrei controversas de historiadores de qual era a nação que escravizava os índios, uns afirmam que eram os portugueses, outros que eram os espanhóis (mas segundo a visão destes, os índios eram considerados súditos do Rei da Espanha e portanto não poderiam ser escravizados). Então fica uma incógnita! Mas caso fosse a Espanha, os padres jesuítas não cumpriram com o que era a política da igreja, no entanto, sabemos que esta ordem rompeu com a igreja tradicional da época e vieram para o Brasil com o intuito de Evangelização e Catequese, de qualquer forma, modificar toda uma cultura, ou porque não dizer exterminar. Então ficaria contraditória suas atitudes, catequizar não combinar com escravizar. E foram eles que defenderam até a morte os povos indígenas... Eles representavam um pensamento e posturas próprios ou de sua nação de origem??
? Na análise de Darcy Ribeiro em "As Américas e a Civilização", as missões caracterizaram-se como "a tentativa mais bem sucedida da Igreja Católica para cristianizar e assegurar um refúgio às populações indígenas, ameaçadas de absorção ou escravização pelos diversos núcleos de descendentes de povoadores europeus, para organizá-las em novas bases, capazes de garantir sua subsistência e seu progresso" Mas enfim, o filme é ambientado neste contexto. Sendo filmado em parte no Brasil (Foz do Rio Iguaçu), beirando as fronteiras com a Argentina e Uruguai e outra parte, filmado na Colômbia, as cenas de selva. Os índios que aparecem no filme são da Tribo Colombiana Waunana. A música de Morricone tem um papel fundamental na história, ela sensibiliza, humaniza, eleva, dá corpo e reveste todo o filme de beleza. Não sendo à toa que ganhou muitos prêmios. A fotografia de Chris Menges também é espetacular. Os atores De Niro e Jeremy Irons estão perfeitos, esbanjando, como sempre talento e competência. 






Curiosidades: o personagem de De Niro existiu e foi o responsável pelas táticas guerreiras que permitiram todos os anos de resistência. Seu nome era Lourenço Balde e era português. Vários dos interpretes de nativos, eram na verdade, índios da América do Sul, que pouco falavam inglês e tiveram a liberdade para falar o que quisessem em cena. Os produtores criaram um fundo que recebeu uma porcentagem dos lucros do filme em prol dos Waunana. As quatro povoações receberam cerca de 50.000 libras  durante as filmagens, Valores de 1986. A maioria do elenco e da equipe técnica adoeceram durante as filmagens, De Niro foi um dos poucos que não contraiu a doença (disenteria). O filme quase não foi realizado por causa do tremendo impacto negativo que teve a filmagem do filme Fitzcarraldo, de Werner Herrog, quando morreram vários índios e a bagunça foi geral, na época. 

Indicações e prêmios: foi indicado ao BAFTA, para Melhor: Filme, Direção, Roteiro Original, Design de Produção (Stuart Craig), Efeitos Visuais e Especiais, Figurino (Enrico Sabbatini), Fotografia e Som. Venceu para Ator Coadjuvante/Secundário Ray McAnally, Edição e Trilha Sonora. Foi indicado ao César, para Melhor Filme Estrangeiro. Ao Globo de Ouro, para Melhor Filme Dramático, Direção, Ator em filme dramático (Jeremy Irons)), sendo que venceu nas categorias  para Melhor Roteiro (Robert Bolt) e Trilha Sonora (Morricone). Ao Oscar, teve indicações para Melhor Filme, Direção, Direção de Arte, Edição, Figurino e Trilha Sonora; vencendo para Fotografia. Ganhou ainda nos Festivais: Cannes, Palma de Ouro, para Direção Roland Josfé e também Grande Prêmio Técnico. Ao David Donnatelo Awards, para Melhores Produtores Estrangeiros (Fernando Ghia e Davis Puttmam). Recomendo!!! Visualmente lindo e tem tudo a ver com a nossa origem histórica.

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