sexta-feira, 27 de março de 2020

Green book - o guia



Diretor: Peter Farrellly
Atores: Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini, P.J. Byrne
Gênero: Biografia
Duração: 130 minutos
Ano:2019

Sinopse: Em 1962, Tony Lip (Viggo Mortenssen), um dos maiores fanfarrões de Nova York, precisava de trabalho, pois a famosa boate Copacabana, fechou as portas para reforma. Ele então conhece um pianista Don Shirley (Mahershala Ali) que o convida a trabalhar para ele, como motorista numa turnê que fará ao sul do país. Enquanto os dois se chocam no início, um vículo finalmente cresce, na medida que eles viajam. 


O filme me fez lembrar de outros dois mais antigos, Conduzindo Miss Daisy (1989) e o francês Intocáveis (2011), onde duas pessoas com comportamentos e personalidades tão distintas, como que para confirmar aquela Lei da Física, de que os opostos se atraem, acabam por construir uma relação forte e profunda, porém inesperada. E como nos anteriores, o filme trás um conteúdo extremamente racista, sendo que neste o período ocorre na década de 60, mais precisamente nos anos de 1962, e um prisma que vai desde algo mais leve/velado até algo mais escancarado e violento. Com um roteiro inusitado e muito bom, é surpreendente a forma como ocorre o enfrentamento desta discriminação racial, infelizmente ainda tão presente na nossa sociedade. Muito sutil e tem tudo a ver com uma das frases marcantes do filme: "Ser gênio não é suficiente, é preciso coragem para mudar o coração das pessoas". Isso é tão lindo, profundo e digno!!! Tudo foi colocado na medida certa: sem violência demais, o mesmo ocorrendo com o humor, tudo na medida certa.



O filme é comovente e emocionante!!! Ao mesmo tempo pode ser visto como um passatempo, mas também como fonte rica de reflexão e educativo. Presença de uma gama enorme de sentimentos que são mostrados e despertados: racismo, medo, desconstrução do pré-conceito, solidão, baixa autoestima e perfeccionismo. Foi baseado em uma história real, do nascimento de uma amizade improvável, mas duradoura entre o sofisticado e contido pianista Don Shirley e o grosseiro, engraçado e típico ítalo-americano Tony Lip (Vallelonga, mas ganhou o apelido Lip, por ser respondão/bicudo), que era famoso por ser "o leão de chácara", o faz tudo de uma boate famosa.
Curiosidade: o carteiro Victor Hugo Green, criou o Green-book (Livro verde), que listava restaurantes, hotéis e outros estabelecimentos comerciais, onde os negros eram bem vindos, pois havia muitos lugares onde os banheiros eram separados e onde não podiam entrar.
 É o primeiro drama de Farrelly, era mais conhecido por fazer comédia, como Débi e Lóide, Quem vai ficar com Mary? e o O amor é cego.



O real Tony Lip se tornou ator e foi figurante em vários filmes sobre a máfia, como O poderoso Chefão, Os bons companheiros, Um dia de cão.
Indicaçôes  e Premiaçôes: Ao Globo de Ouro, foi indicado em quatro categorias: e ganhou três Melhor Filme Musical ou Cômico, Roteiro de Cinema e Ator Coadjuvante em Drama ou Musical, só não ganhou para Melhor Diretor.
Ao BAFTA, ganhou para Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), mas teve outras indicaçôes também, de Melhor Direção, Ator e Roteiro Adaptado.


E ao Oscar teve cinco indicaçôes e ganhou três: para Melhor Filme, Roteiro Original, Ator Coadjuvante, não ganhou para Melhor Montagem e nem para Melhor Ator (Viggo Mortensen).
Foi uma grata surpresa ver este filme, então eu recomendo que veja, não vai se decepcionar e nem se arrepender.

A escolha de Sofia




Diretor: Alan J. Pakula
Atores: Meryl Streep, Kevin Klein, Peter MacNikol, Rita Karin
Gênero: Drama
Duração: 150 minutos
Ano: 1982


Sinopse: Em 1947, Stingo (Peter MacNikol) é um jovem protestante e asperante a escritor vindo do sul que vai morar no Brooklyn, na casa de Yetta Zimmerman (Rita Karin) que aluga quartos. Lá conhece Sofia Zawinstowiska (Meryl Streep), sua vizinha do andar de cima, que é polonesa e fora prisioneira em um campo de concentração e Nathan Landau (Kevin Klein), seu namorado, um carismático judeu, dono de um temperamento totalmente instável. Em pouco tempo tornam-se amigos, sendo que Stingo não tem a menor idéia dos segredos que ambos escondem.


Mais um filme maravilhoso protagonizado pela diva Meryl Streep, ela está linda nesta performance  e memorável, como a sobrevivente do Holocausto, Sophie. Filme baseado no romance homônimo de 1979, do escritor americano William Clark Styron, que relata neste romance filosófico a tragédia vivida por Sophie Zawistowiska. O filme aborda com delicadeza e através de flash backs da personagem os horrores da Segunda Grande Guerra Mundial e suas consequências, o impacto que isso pode ter no psiquismo dos sobreviventes: dor, medo, pânico e no caso da personagem, culpa, muita culpa; por estar viva e por ter sido obrigada a fazer uma escolha terrível que marcaria sua vida pra sempre.


Sofia é forte e com uma personalidade densa, mas trás cicatrizes profundas do Holocausto e quando encontra Nathan, um judeu americano culto, instável e obcecado pela Guerra, faz dele sua nova razão de viver, ele trás a sua vida o colorido e leveza que havia perdido. Eles de certa forma se completam: ele com seu brilhantismo, alegria de viver e fantasia, possibilita a ela o lenitivo para aplacar suas dores da alma. Os dois acabam estabelecendo uma relação doentia, de amor e ódio (Instinto de Vida, Eros e Instinto de Morte, Tânatos), com muito erotismo e sedução.


Ela precisa da loucura dele para esquecer seus traumas e ele precisa dela, fascinado por sua beleza e pela aceitação/submissão completa que ela desenvolve por ele, aceitando seu descontrole emocional. Daí conhecem Stingo, tornam-se amigos e logo acabam criando um triângulo amoroso, com sentimentos complexos de amor, inveja, ciúme, admiração, fascinação e medo. Sofia acaba fazendo uma segunda escolha na sua vida... Os atores Meryl e Klein estão maravilhosos como os personagens principais, que são de uma riqueza e ao mesmo tempo complexos demais, o que provavelmente não deve ter sido fácil de desempenhar. Meryl dá vida a Sofia, está simplesmente perfeita!!!! Realmente merecedora do Oscar. Inicialmente quando vem para Nova York está frágil, insegura, apesar de ser culta e falar várias línguas, mas com dificuldade para pronunciar o inglês e vai se tornando cada vez mais forte, apesar de toda sua história e Klein, incrível!!! Demonstrando muita segurança, ainda que este personagem tenha sido seu primeiro trabalho no cinema. São ambos, de certa forma apaixonantes. Deve ser por isso que Stingo se encanta por eles e se sente tão acolhido afetivamente.
Tendo como equipe técnica: Cenografista: George Jenkins, Diretor de Fotografia Nestor Almendros; responsável pela música Marwin Hamlisch. Figurino muito criativo e lindo de Albert Wolsky.
Curiosidades: a atriz Meryl se recusou a fazer a cena da escolha, outra vez, por ter achado a cena muito dolorosa e desgastante para filmar. E anos depois, ao participar do programa de Oprah Winfrey, foi apresentada novamente a cena e Meryl ficou visivelmente perturbada.  Meryl também literalmente implorou para fazer este personagem ao Diretor Pakula (ficou realmente de joelhos). Neste filme, ele dirige, escreveu o roteiro e ainda produziu.



Outras atrizes foram convidadas e fizeram testes pra o papel: Marthe Keller e Barbra Streisand.
O filme foi tão marcante que virou uma expressão usada para significar uma escolha muito difícil, uma decisão quase impossível de se tomar.
Indicaçôes e Premiaçôes: Foi indicado ao Oscar de 1983 para Melhor Fotografia, Figurino, Trilha Sonora e Roteiro Adaptado e venceu para Melhor Atriz, claro! Meryl Streep.
Ao BAFTA: indicações para Melhor Atriz e Melhor Ator Estreante.
Ao Globo de Ouro foi indicado para Melhor Filme Drama, Atriz em drama e Astro do ano em cinema.

Na Academia Japonesa de Cinema, foi indicado para Melhor Filme Estrangeiro.
Recomendadíssimo!!! É um filme simplesmente inesquecível!!!

quarta-feira, 25 de março de 2020

Colcha de retalhos




Diretora: Jocelyn Moorhouse
Atores: Winona Rider, Ann Bancroft, Ellen Burstyn, Kate Nelligan, Claire Danes, Alfre Woodard, Dermot Mulroney, Jared Leto
Gênero: Drama
Ano: 1995



Sinopse: Enquanto elabora sua tese para concluir sua formação e se preparando para assumir um relacionamento com seu noivo, Finn Dodd encontra-se confusa com rumo em que dará na vida, acaba se refugiando na casa de sua Tia e Avó, para passar o verão (local onde passava suas férias, na infância). Lá também residem várias amigas da família e que estão se preparando para confeccionar uma colcha de retalhos para ser o presente de casameto dela. Enquanto o trabalho é feito, ela ouve relatos de paixão e envolvimentos nem sempre moralmente aprováveis, mas repletos de sentimentos que estas mulheres tiveram. Neste meio tempo, Finn se sente atraída por um desconhecido, criando mais dúvidas no seu coração que precisam ser esclarecidas. 



Filme muito delicado que aborda os sentimentos da alma humana em diferentes etapas da vida e sobretudo as várias fases do amor, apresentado de inúmeras maneiras: através da demonstração do afeto a um ente querido, a um parceiro, a um objeto ou animal e, até mesmo através da razão. Lições sobre o perdão e desapego, através de um arco-íris de sentimentos e emoções. Lindo demais!!! O filme tem um elenco feminino de peso, verdadeiras divas, que ao se reunirem para confeccionar uma certa colcha, e que fazia parte dos hábitos da comunidade local, vão contando sua história de vida e imprimindo sentimentos naquilo que estão fazendo. A colcha será o presente de casamento da personagem principal Finn (Winona Rider), e ela tem até um nome: Onde vive o amor? Estas mulheres são fortes e especiais e a convivência de Finn com elas, neste período de sua vida, será decisivo para sua transformação interna, para que possa enfrentar a vida, sem medo e dúvidas e ainda passando a ouvir mais sua intuição e a dar mais força as suas escolhas. O maravilhoso é que ao mesmo tempo, ao contar suas histórias amorosas através da confecção da colcha, estas mulheres também passam a ver suas vidas de forma diferente (o artesanato contribuindo para uma transformação catártica de todas). O roteiro é muito bem construído através das mãos habilidosas de Jane Anderson. A Trilha Sonora melancólica é assinada por Thomas Newman. A Direção de Fotografia, que por sinal está belíssima e bucólica tem como responsável, o conhecidíssimo Janusz Kaminski. E Diretoras de Elenco: Risa Branon Garcia e Mary Vernieu.


Curiosidade: Foi a estréia do ator Jared Let no cinema.
Frase  marcante do filme: "Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas que acrescentam e me fazem ser quem sou. Em cada encontro, em cada contato vou ficando maior... Eu compreendo e aceito que a felicidade será sempre pequenos retalhos da colcha da vida". 





"Como saber se devemos fica com a pessoa o resto da vida?"
Recomendadíssimo!!! Tocante e inesquecível!!! 

Veja ou reveja e comente.

A esposa




Diretor: Bjorn Runge
Atores: Glenn Close, Jonathan Pryce, Max Irons, Christian Slater, Harry Lloyd, Elizabeth McGovern, Annie Starke
Gênero: Drama
Duração: 101 minutos
Ano: 2019



Sinopse: Joan Castleman (Glenn Close) é casada com um homem controlador e que não sabe cuidar de si mesmo e de outra pessoa. Ele é escritor e está prestes a receber o Prêmio Nobel de Literatura. Joan, que passou 40 anos ignorando seus talentos literários para valorizar a carreira do marido, decide abandoná-lo.  


Mais um filme interessante que embora não tenha sido indicado a Melhor Filme, teve a sua protagonista principal indicada e acredito que foi uma injustiça não ter ganho, uma vez que é uma das mais talentosas de Hollywood. Foi baseado no livro homônimo de Meg Wolitzer e aborda o ambiente machista do mundo literário, mas sem um aprofundamento, tanto que diante de todo conteúdo apresentado, ainda assim, não ocorre uma emancipação da personagem, suas escolhas ainda são fomentadas pela submissão. O roteiro de Jane Anderson foi eficientemente adaptado, o filme gira inicialmente em torno do escritor que foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura e a repercussão que isso desencadeia e culmina com a ida do casal e o filho para Estocolmo na Suécia, onde ocorre oficialmente a entrega. Apesar da história ter o foco nesta premiação, desde o início a câmera esta sempre flagrando as expressões da esposa, que apesar de discretas, são profundas e percebidas pelo expectador, cheias de uma infinidade de sentimentos.  Os diálogos apresentados são excelentes e gradativamente vai se descortinando um novo panorama na relação do casal e da família, o que aparentemente era uma relação ideal, começa a mudar na medida que vão surgindo muitos silêncios e sentimentos de desconforto e dando a dica de que há algo de mais nebuloso na relação de todos e de que nem tudo é o que parece. Durante a viagem, Joan (Glenn Close) começa a questionar suas escolhas na vida, após quarenta anos de casamento e onde isso a levou: sacrifício de seu talento e sonhos, por um amor e para manter e apoiar a carreira literária promissora do orgulhoso e mimado Joe (Jonathan Pryce). O filme é ambientado nos anos de 1982, e ainda neste período o modelo machista estava presente como nunca: talento reconhecido e valorizado só através da figura masculina. E tudo é muito potencializado pela presença de um jornalista insistente que deseja escrever um livro biográfico sobre Joe e após inúmeras pesquisas de suas vidas, encontra-se ávido pra trazer alguns questionamentos e possíveis segredos à tona. Enfim, o filme mostra a complexidade das relações desta família, permeada por sentimentos tão conflitantes de amor, ódio, raiva, inveja, admiração e submissão. E também da aborda a fragilidade dos relacionamentos da terceira idade. 


Ironicamente ou não, o filme acaba por ressaltar o talento feminino (atriz e roteirista), como que para ressaltar aquele dito popular que "atrás de um grande homem, sempre existe um  grande mulher" ou mulheres, apesar do cunho machista, mas...
Atuação maravilhosas dos atores, principalmente de Glenn Close, que está majestosa e teve o reconhecimento merecido ao ser indicada para Melhor Atriz em várias premiações, mas não levou a estatueta do Oscar. Ela já foi indicada outras vezes, mas nunca ganhou (infelizmente), em Atração Fatal (1987), Ligações Perigosas (1988), Albert Nobbs (2011).
Indicações e Premiações: Indicação de Melhor Atriz ao Oscar 2019, ao BAFTA e ao AACTA Internacional Award. Vencendo para Melhor Atriz em Drama ao Globo de Ouro.
Curiosidades: o filme foi selecionado para o Festival de Internacional de Cinema de Toronto em 2017. E a atriz que interpreta Joan quando mais jovem, Annie Starke, é filha de Gleen Close, daí a enorme semelhança. 
Recomendo que seja assistido, vale muito a pena.